(Natalício Barroso)
Natalício Barroso nasceu em Itapipoca 19/12/1957, Estado do Ceará – Fortaleza, Ceará (26-04-2022 .
Cursou as primeiras Letras. Em 1977, ingressou na Faculdade de Letras da UFC. Trabalhou no Instituto Municipal de Arte e Cultura – Rioarte – e na Fundação Biblioteca Nacional. Tem publicado, entre outras obras, Poemas de Abril; Sintonia, O Velho Marinheiro, a Baia da Guanabara e a Triste Sina do Imperial; O Capacete de Aquiles; A Vida Amorosa de Marco Polo, além de colaborar com artigos em jornais e revistas daqui e d’além mar. Estudou também na Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhou na Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza – FUNCET – PMF – Ceará.
Poeta, Jornalista e Romancista, também é autor de livros sobre as Literaturas Grega e Latina como As Tralhas Gregas e Outras Tralhas publicado pela Editora Smile, O Livro dos Clássicos, editado pela Fundação Demócrito Rocha/Jornal O Povo e As Pirâmides do Egito e o Palpite do Ceará, editado pelo Instituto Episteme de Saúde, Educação e Cultura (1ª Edição), e pela Editora Chiado Books – Portugal (2ª Edição).
O GERENTE
(Texto extraído do romance O Bibliotecário dos Deuses, de Natalício Barroso com ilustrações de Álcio C. Barroso).
Edmilson havia saído do cemitério. Literalmente. Foi encontrado dormindo em cima de um túmulo. Perguntado o que fazia ali, disse que era a sua casa. Gostava de lugares como aqueles onde podia dormir à vontade sem ser incomodado por ninguém. Infelizmente havia dormido um pouco mais que o normal e foi encontrado por aquele coveiro que havia sido contratado por certa família para regar as plantas em torno daquele túmulo no qual Edmilson estava deitado.
O coveiro e o intruso conversam no Cemitério de Itapipoca
Acordado pelo coveiro, que também era jardineiro, Edmilson esticou-se primeiro, antes de se levantar, escancarou a boca, para bocejar e, em seguida, perguntou o que aquele homem queria. O coveiro, admirado com aquilo, ficou de boca aberta. Pensava que no momento em que tocasse em Edmilson este haveria de dar um pulo, assustado, e sair correndo. Mas não foi o que aconteceu. Permaneceu no mesmo lugar. Sentou-se na louça fria, que lhe serviu de cama, balançou as pernas, que não chegavam ao chão, e perguntou novamente:
– O que foi? – Zacarias, como se chamava o coveiro, foi quem se assustou diante daquela reação. Ficou estupefato. Se não tivesse passado quase a vida toda em um cemitério, teria abandonado a enxada, a jarra cheia de água que levava para aguar as plantas daquele túmulo, a tesoura grande para a poda e fugido. Mas, como era filho e neto de coveiros, não podia perder a pose. Era preciso enfrentar o inevitável e manter a serenidade. Foi o que Zacarias fez. Tirou a enxada do ombro, abaixou a jarra e atirou a tesoura a seus pés. Depois perguntou àquele fantasma que falava e agia como ser humano o que fazia ali, no cemitério, e este respondeu: estava visitando o lugar. Há algum tempo que queria conhecer o cemitério de Itapipoca e não conseguia. Finalmente a sua curiosidade foi saciada.
– E o que achou daqui? – Indagou Zacarias. E o outro respondeu:
– Uma maravilha! A noite de ontem foi, simplesmente, primorosa! – Havia chegado de São Luís do Curu, onde havia passado de dois a três dias no cemitério de lá, e agora estava ali, no Cemitério São João Batista de Itapipoca. Dali pensava em seguir para o de Acaraú e, depois, para o de Sobral. Zacarias queria saber por que fazia aquele percurso, e o outro esclareceu. Disse que conheceu um homem, no Rio de Janeiro, que tinha o hábito de viajar pelo mundo visitando bibliotecas. Por que ele não podia visitar os cemitérios da terra onde nasceu? Zacarias pegou da enxada e começou a capinar. Edmilson ficou por ali, conversando. Com o tempo, foi trabalhar na movelaria de Seu Alípio onde Emanuel o conheceu. Era um homem alto e sorridente que fazia de tudo para agradar os outros.
A forma como chegou na movelaria de Seu Alípio merece ser narrada. Procurava emprego, disse para Zacarias enquanto este tirava o mato rasteiro das imediações. Zacarias afirmou que, em Itapipoca, não haveria emprego para ele, mas o outro insistiu. Informou que era um bom vendedor e perguntou a Zacarias se não havia uma movelaria em Itapipoca. Zacarias disse que sim e como aquele homem já se sentia empregado, antes mesmo de ser contratado, Zacarias, que conhecia todo mundo em Itapipoca, levou aquela alma penada para a Imperatriz dos Móveis.
Recebido por Seu Alípio, este olhou para aquela alma de soslaio. Depois para o filho, nas imediações, e tomou uma decisão. Emanuel era o único ajudante que possuía, e, como era muito novo ainda, não dava para confiar nele. Aquele homem havia chegado de uma cidade grande, poderia muito bem se tornar imprescindível se, por acaso, se tornasse de confiança. E concordou com a oferta.
Edmilson entrou para a movelaria. Toda manhã muito cedo estava na loja, atendendo as pessoas. Seu Alípio nunca soube aonde ele dormia até o dia em que Zacarias, encontrando-se com ele, perguntou por que Edmilson continuava dormindo no cemitério, e seu Alípio não soube o que responder. Edmilson, a partir desse dia, passou a dormir na própria loja e, em pouco tempo, adquiriu a confiança do dono que o transformou em gerente, ainda que não lhe desse este nome.
Gerente da única movelaria de Itapipoca na década de 1960, Edmilson passou por situações muito difíceis. Conta ele que certa vez foi ludibriado por um homem de Deus que apareceu na loja e fez amizade com ele. Afirmou que era dono de um rebanho imenso e queria comprar alguns móveis para a sua igreja. Edmilson caiu no conto daquele vigário. Vendeu as mesas e cadeiras que o homem queria e recebeu, como pagamento, vários cheques pré-datados. Era a garantia de que haveria de receber o dinheiro. Mas não recebeu. O reverendo sumiu e, quando Edmilson foi à casa dele, onde a igreja também funcionava, pegar as mesas e cadeiras de volta, não havia mais ninguém. O homem tinha desaparecido e, com ele, os móveis que havia comprado.
Edmilson, que não quis romper com Seu Alípio, poderia, muito bem, ir embora e voltar a morar nos cemitérios das imediações. Mas não foi o que fez. Permaneceu na loja e pagou a despesa feita pelo outro com o próprio salário. Vai um dia aquele homem reaparece. Abandonou o ar de reverendo e adotou o de político. Mas, se foi como reverendo que enganou Edmilson, foi como político que reparou a sua falta. Pagou toda a dívida que havia feito de uma vez e pediu desculpas. Estava passando por uma situação muito difícil naquela época e a única alternativa era aquela: pedir emprestado às pessoas aquilo que elas possuíam. Mas agora estava ali para pagar tudo. E pagou. Edmilson, que havia tido um prejuízo imenso com aquele negócio, acabou lucrando e Seu Alípio não lhe criou nenhum constrangimento.
O comércio, em Itapipoca, sempre foi muito movimentado. Principalmente nos fins de semana. Sábado era dia de feira. As pessoas desciam as Serras de Uruburetama e iam para a sede do município comprar ou vender. Era nestes dias que a movelaria mais faturava. Postado na frente da loja, Edmilson recebia os fregueses. Levava para o interior, mostrava as novidades e fazia o que podia para lucrar um pouco mais do que nos outros dias.
Mas havia um móvel, pensou ele certa vez, que jamais venderia. Era um armário que tinha sido encomendado por uma senhora de Amontada. Ela mesmo fez o desenho do objeto hediondo na frente dele, Edmilson. Pegou uma trena e mediu o tamanho de tudo para, no final, ir embora. No dia em que voltou para pegar sua obra de arte, ficou apavorada. Não tinha mandado fazer aquilo não. Edmilson percebeu que, mais uma vez, teria prejuízo. Discutiu com a velha senhora: o desenho tinha sido dela, disse ele, e as medidas também. A mulher ficou indignada. Mandaria fazer outro armário, mas aquele não levaria nunca para sua casa. Edmilson, diante disso, da possibilidade de se fazer um novo armário, cedeu, aumentou o preço do objeto consideravelmente e mandou a mulher falar com o carpinteiro. Ela foi. O móvel recusado, por sua vez, ficou encalhado. Edmilson achava que nunca haveria de vendê-lo. Era tão feio que não haveria ninguém, neste mundo, que viesse a se interessar por ele. Mas estava enganado. A movelaria de Seu Alípio ficava diante do prédio do Banco do Brasil e, de vez em quando um bancário daqueles passava pela loja e olhava as peças recém-fabricadas. De repente um deles, vendo aquele móvel oblongo e escuro, mais parecido com um esquife do que com um armário, ficou encantado. Tirou o charuto da boca, lançou algumas baforadas redondas pelo ar e contemplou aquele colosso de braços abertos. Edmilson olhou para ele; para o móvel depois e não sabia o que estava acontecendo quando o outro exclamou:
– Mas que maravilha! – Edmilson pensou que o outro estava brincando. Mas não estava. Falava sério. Disse que viu algo parecido em uma revista francesa e queria comprar aquele armário assim que a mulher chegasse de Baturité. Edmilson respirou fundo. Ainda teria que passar por aquele teste.
A mulher do bancário chegou e foi na loja. Queria ver o móvel que tinha deslumbrado tanto o marido. Edmilson mostrou. Era um móvel escuro, feio ou, em outras palavras, horripilante, mas, como chamou a atenção do marido de Dona Irma, como se denominava aquela senhora, Edmilson disse que era o último lançamento da loja baseado em um modelo francês. Dona Irma ficou calada. Parou de sorrir e sentou em um tamborete. Edmilson imagina que teve vergonha de sentar em uma cadeira depois que viu aquele armário escolhido pelo pai de seus filhos.
– Tem certeza – disse ela para Edmilson – que é este mesmo o armário que o Estevão reservou para mim?
– É este mesmo, dona Irma – respondeu Edmilson sem saber mais o que dizer. – Dona Irma fez careta e acrescentou depois de franzir o cenho e coçar a cabeça.
– Mande deixar, seu Edmilson. – O gerente da Imperatriz dos Móveis não acreditou em seus ouvidos mas, quando a mulher do bancário repetiu, ele compreendeu tudo: era para deixar aquele móvel, vindo de um outro mundo, na casa dela. Edmilson não quis saber o motivo, imediatamente, mas, com o tempo, soube que a decisão da mulher tinha o objetivo de não contrariar o marido. Havia falado tão bem daquela peça fúnebre que achava melhor levá-la a deixá-la na movelaria.
Edmilson foi embora. Depois se soube que nunca havia trabalhado com móveis no Rio de Janeiro. Tinha sido bancário e se abandonou a Cidade Maravilhosa foi por causa de uma brincadeira. Trabalhava no London Bank, que ficava na Rua da Alfândega, centro do Rio de Janeiro. Toda manhã, às doze horas em ponto, Mister Douglas, o representante dos banqueiros ingleses no Brasil, chegava na agência com seu Rolls-Royce negro. O motorista abria a porta do carro e Mister Douglas dava alguns passos em direção à porta do edifício. Entrava no banco e se dirigia para o elevador que haveria de levá-lo para o seu escritório no quinto andar. Edmilson não gostava daquela pontualidade britânica nem daquela maneira austera de Mister Douglas se comportar. Quando andava, era todo empertigado e se, por acaso, se voltava para os lados ou para trás, movia todo o corpo. Nunca movia só o pescoço. Nem quando estava sentado.
Edmilson não gostava disso e prometeu, a si mesmo que, um dia, haveria de acabar com a pose daquele homem. E acabou. Eram aproximadamente quinze para as doze da manhã de uma quarta-feira quente de verão quando Edmilson amarrou um fio de seda em uma cédula de dois cruzeiros, equivalente a mais de cem reais hoje em dia, e ficou esperando. Mister Douglas, assim que chegou em seu carro preto às doze horas em ponto e se dirigiu para o elevador depois de passar pelo portão de entrada do prédio, viu aquela cédula e correu para ela. Parou diante daqueles dois cruzeiros, olhou para a direita e para a esquerda sem ver ninguém, e se abaixou. A cédula andou. Mister Douglas ficou pálido. Pôs-se de pé, imediatamente, recompôs o terno, que havia ficado um pouco amarrotado, e se deparou com um homem alto e sorridente à sua frente. Era o cearense Edmilson que puxava a cédula com um fio de seda da cor do assoalho. Foi seu último emprego no Rio de Janeiro. No Ceará, para onde voltou, prometeu que nunca mais trabalharia para mais ninguém. Preferia morrer de fome a vender a sua força de trabalho para outra pessoa. Mas acabou trabalhando para Seu Alípio, em Itapipoca, e quando foi embora deixou um envelope lacrado em cima de uma mesa no interior do qual contava toda esta história.
Coincidentemente 1º de Maio não marca apenas o Dia do Trabalho. A data também homenageia o nascimento do romancista José de Alencar e, ainda, celebra o Dia da Literatura Brasileira. Uma das maiores referências da literatura nacional, Alencar atuava como jornalista, dramaturgo, político e advogado. Como escritor, deixou um legado até hoje cultuado. Aproveitando as duas datas, a Agência da Boa Notícia (ABN) entrevistou com exclusividade o jornalista e escritor cearense Natalício Barroso para discutir os caminhos, as dores, os amores, os desafios e as delicadezas dessa profissão. Confira o nosso bate-papo abaixo.
(Agência da Boa Notícia) Há quanto tempo é escritor e quantos livros já escreveu (entre publicados e não publicados)?
(Natalício Barroso) Escrevo desde os nove anos de idade. Como na época em que fazia o primário não havia aula de redação nem de Literatura (a ditadura militar não deixava), me surpreendi no dia em que uma de minhas professoras colocou o desenho de uma cabeça de cavalo na parede e pediu aos alunos para escrever sobre ela. Tomei um susto. Escrever? Descrever a forma, a cor e até o cheiro, quem sabe, daquele cavalo? Isso me deixou realmente emocionado.
A primeira redação que fiz por conta própria, porém, foi um pouco mais tarde. Os Estados Unidos haviam pisado na Lua pela primeira vez em 1969. Vi tudo pela televisão. Terminada a viagem dos astronautas, escrevi um texto sobre eles. Foi o primeiro texto.
Publiquei muitos livros. Alguns deles razoáveis. Outros, nem tanto. Os livros que mais considero, porém, são “A Vida Amorosa de Marco Polo”, que saiu pela UFC; o “Leão de Ouro”, publicado pelo Instituto Episteme; “O Livro dos Clássicos”, editado pela Fundação Demócrito Rocha e “A Tralha Grega…” que saiu pela Smile. Em breve, o Armazém da Cultura estará publicando “A Casa de Circe” e “Viagem Sem Fim”. Inédito disponho dos seguintes: “Prestação de Contas”, “A Profecia de Altazor” e um terceiro que ainda não tem título.
(ABN) Qual o seu estilo de escrita? Sobre que versam seus livros?
(N.B) Nilto Maciel, crítico literário e um dos editores da revista O Saco, aqui do Ceará, escreveu, certa vez, que não tenho estilo ou, se tenho, é o de rua. Escrevo, mais ou menos, como falo. Diferente de Shakespeare (longe de mim me comparar com o bardo inglês) que, para Tolstoi, o romancista russo, é muito solene. Os meus textos são corriqueiros.
Os assuntos são variados. Quando morei em Manaus, escrevi um pouco sobre a floresta amazônica. No Rio de Janeiro, falei da Baía de Guanabara, o bairro de Santa Teresa e o centro daquela cidade. Em Fortaleza, escrevo sobre a capital cearense. Os últimos trabalhos me têm surpreendido. Trato de bichos – gatos e pombos, principalmente. “A Casa de Circe” é um destes livros.
(ABN) O Brasil é reconhecidamente um país com pouco hábito de leitura. Ainda contra nós tem a fragilidade na educação brasileira. Como ser escritor nesse contexto?
(N.B) Quando D. João VI veio para o Brasil em 1808, o país tinha menos leitores ainda. Aliás, a literatura brasileira se restringia aos portugueses que aqui moravam (Tomás Antônio Gonzaga, por exemplo, e o Pe. Antônio Vieira) e alguns brasileiros felizardos como Cláudio Manuel da Costa. Mesmo assim as pessoas escreviam. Escrever, na verdade, independe do leitor. Flávio Josefos, quando redigiu a História dos Hebreus setenta anos após a morte de Cristo contado como foi a destruição do templo de Jerusalém por Tito Vespasiano, talvez não soubesse que fosse lido. Mesmo assim compôs este monumento de quase duas mil páginas em edição de hoje. É conhecida a história do Marquês de Sade, preso na Bastilha, em Paris, que, como não possuía tinta nem papel para escrever, cortou os pulsos e, assim, compunha poemas e frases soltas nas paredes da prisão e dos seguidores de Maomé, movidos sabe-se lá por que, que copiavam as palavras do profeta no lombo de seus próprios animais para, dessa maneira, não perder nenhuma frase daquele que consideravam santo. Tudo, na verdade, é inexplicável nesse universo de pontos e vírgulas.
(ABN) Além do pouco incentivo à leitura e educação, o mercado editorial é bem fechado. Além da competitividade com outros escritores nacionais, ainda tem a forte presença da literatura internacional. Em sua análise, como o escritor brasileiro sobrevive à essa realidade?
(N.B) Não sobrevive. O editor Francisco Alves tinha um método infalível. Publicava pelo menos um livro de determinado autor brasileiro. Se vendesse, publicava outro e assim por diante. José Olímpio adotava método diferente. Editava autores estrangeiros para, com o lucro, investir em autores brasileiros. Foi assim, por sinal, que surgiu o Romance de 30 com José Américo, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
A coisa é tão difícil, no entanto, que Érico Veríssimo conta em “Um Certo Henrique Bertaso” que quando trabalhava na Editora Globo, no Rio Grande do Sul, viu um dos donos da editora admoestar um dos escritores porque, quando mandava cinco exemplares dele em consignação para uma determinada livraria, voltavam seis e não somente os cinco que havia mandado. Queria saber, portanto, que mágica era aquela.
Luis Schwarz, segundo ouvi falar, dono da Companhia das Letras, publica apenas dois autores novos por ano. O restante são autores que já vendem normalmente. Mas, quando se pensa que Garbriel García Márquez foi recusado várias vezes pelas editoras e, numa destas vezes, recebeu a recomendação, por parte do editor, para mudar de profissão, dá para sentir, mais ou menos, o drama.
(ABN) Mesmo diante dessas dificuldades, é inegável a qualidade da literatura brasileira. Quais são as recompensas em escolher essa profissão (ou missão)?
(N.B) Não há recompensas. Pelo menos na maioria dos casos. Geralmente, quando isso acontece, é exceção, e não a regra.
(ABN) Atualmente, no universo cearense, quem são os escritores que se destacam. Por quê?
(N.B) Lira Neto e Adriano Espínola. Lira Neto porque, assim como Adriano, tem editora. Lira publica pela Companhia das Letras e o Adriano pela Topbooks.
(ABN) O Ceará produziu grandes escritores, que deixaram sua marca na literatura brasileira. Desses, quais são os seus favoritos?
(N.B) Aníbal Bonavides, Antônio Sales, Adolfo Caminha e alguns outros. Aníbal é autor de um livro que trata da prisão que sofreu, na década de 1960, no 23 BC. Com ele estavam Tarcísio Leitão, Barros Pinho e Blanchard Girão. Tratando do assunto com a gravidade que merece, mas sem deixar de relatar alguns momentos de humor, este livro de Bonavides merece ser reeditado hoje em dia. Afinal, não perde em nada para “O que é isso, Companheiro?” do Gabeira ou “Batismo de Sangue” de Frei Beto. Antônio Sales não só porque escreveu “Aves de Arribação” que, diferente do “O Quinze”, de Rachel de Queiroz, se passa em um sertão florido, mas porque também redigiu “Retratos e Lembranças” no qual conta como foi a sua vida por volta de 1897, no Rio de Janeiro, quando foi fundada a Academia Brasileira de Letras. Adolfo Caminha por ter sido o autor de “A Normalista” e “No País dos Ianques”, considerado o primeiro livro de viagens redigido por um escritor brasileiro.
(ABN) Ainda dentro da realidade cearense, quais são as políticas de incentivo à literatura? Quais são os caminhos para o jovem que deseja trilhar esse percurso?
(N.B) Na verdade, não há caminho. Disse Heidegger, certa vez, que para quem quer vencer na vida tem, de fato, um caminho: a escola. E fez uma ótima comparação. A escola, para ele, são como pedrinhas colocadas em uma floresta que levam a um lugar: a universidade que, por sua vez, encaminha o aluno para exercer determinada profissão. Assim, quem se forma em jornalismo, tem uma redação de jornal para trabalhar; em direito, tem um escritório; medicina, um consultório e assim por diante. Como a profissão de escritor não existe (ainda que tenham montado uma ou duas faculdades em São Paulo nesse sentido) também não há “pedrinhas” nesta floresta para pisar. Nesse caso, quem quiser desbravar este mundo terá que empunhar a foice e abrir seu próprio caminho. Poucos, naturalmente, são aqueles que chegam do outro lado. Muitas vezes os livros chegam lá sozinhos, sem os autores.
(ABN) Para você, mesmo com os desdobramentos ou a falta deles (incentivo, patrocínio, políticas públicas), vale a pena ser escritor no Brasil, principalmente, no Ceará?
(N.B) Vale.
(ABN) Em sua análise, o que pode mudar o contexto brasileiro no tocante ao pouco hábito de leitura e carência de políticas de incentivo?
(N.B) A leitura, na verdade, é um problema social e não apenas cultural. Disse Michel de Montaigne em seus Ensaios que são do século XVI que tinha pena das pessoas que sabiam ler e, mesmo assim, não tiravam uma parte de seu tempo para isso. E por que escreveu isso? Montaigne sabia o quanto a leitura é importante para as pessoas em todos os sentidos. Artur da Távola, que morreu em 2008, tinha um programa de música clássica na televisão no qual sempre acabava com a seguinte frase: “Quem tem vida interior não sofre de solidão”. Aí está uma das funções da literatura. Ocupar a mente das pessoas. Quando isso for detectado pelos indivíduos e não pelo povo, esta entidade abstrata arduamente perseguida pela mídia e o poder, talvez alguma coisa mude.
(ABN) Como você avalia o novo mercado de livros digitais?
(N.B) Afinal, o que é o livro? Quando surgiu, na Mesopotâmia, não passava de um tijolinho de barro. No Egito, era de papiro e, na Idade Média, pergaminho. É natural que, hoje, passe por uma nova transformação depois de ter sido de papel por longo tempo. Pe. José de Anchieta, recém-canonizado em Roma, escrevia seus poemas, dedicados a Nossa Senhora, na areia da praia. Vinha o mar e desfazia tudo aquilo que ele escrevia. José de Anchieta não ficava nem um pouco preocupado com isso. Ele sabia que, o mais importante, era escrever mais, talvez, do que viver.
(ABN) Para finalizar, qual é o principal entrave, atualmente, na Literatura brasileira?
(N.B) Baixa estima.
LIVROS DE NATALÍCIO BARROSO À VENDA NA INTERNET
Essa novela de Natalício Barroso intercala ficção e realidade, mas o leitor não estabelece um divisor entre esses dois aspectos da narrativa. Ele tem um poder impressionante de transitar entre a história e a fantasia, que a impressão que deixa no leitor é de que tudo ali é verdade. É, portanto, um bom livro, porque prende a atenção do leitor, numa história com ingredientes de romance e ainda traz uma feição didática. Daí ser importante sua leitura pelo estudantes do nosso Ensino Médio, que conhecem muito do mundo lá de fora e desconhecem a sua própria história, a História do Ceará.
A obra traz a Fortaleza dos anos de 1859 a 1861 em uma novela que reúne as curiosidades da vinda ao Ceará de expedição da comissão cientifica de exploração indicada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Dela participavam nomes como Freire Alemão, Giácomo Raja Gabaglia e o poeta Gonçalves Dias.
Além disso, o livro conta também a aventura da construção de um navio em pleno Centro de Fortaleza, na rua Senador Pompeu, que foi transportado por escravos até o Mar, entre outras extravagâncias daquele período.
Título: As Pirâmides do Egito e o Palpite do Ceará
Autor: Natalício Barroso
Editora: Instituto Episteme de Saúde, Educação e Cultura
Edição: 2ª
Ano: 2019
Idioma: Português
Especificações: Brochura | 144 páginas
ISBN: 978-85-420-1476-1
Tamanho: 22×15, 5×1 cm
Nero manda buscar a primeira vestal do Império, Rúbria, para o acompanhar à festa das virgens. Tigelino, o seu ministro mais dileto, encomendou duas balsas: uma delas para o imperador e outra para os remadores que haveriam de levar a primeira balsa para uma praia onde as mulheres e as filhas dos nobres se encontram à espera de Nero e seus convidados como caças humanas que seriam perseguidas nuas em baixo de cruzes ocupadas por cristãos recém-crucificados. Baseado em Quo vadis? de Henryk Sienkewics, Natalício Barroso, poeta, romancista e jornalista pinta esta e outras passagens do romance polonês do século XIX em sua última peça de teatro.
Título: A Festa das Virgens
Autor: Natalício Barroso
Editora: Expressão Gráfica e Editora
Edição: 1ª
Ano: 2019
Idioma: Português
Especificações: Brochura | 88 páginas
ISBN: 978-85-420-1420-4
Tamanho: 22×10 – 5×0 cm.
Romance juvenil que mistura suspense e mistério, em diálogo com personagens da mitologia grega. Uma casa ocupada por gatos é o palco de ação da história, protagonizada por um casal sem filhos que se muda para o imóvel. Acontecimentos pra lá de intrigantes perturbam a rotina dos dois, forçando-os a atuar como detetives nessa curiosa trama.
- Editora: Armazém da Cultura – 1ª Edição – 2017
- Idioma: Português
- ISBN-10: 8584920390
- ISBN-13: 978-8584920396
- Tamanho: 20 x 13 x 1 cm
Marco Polo viajou para a China quando tinha apenas dezessete anos. Passou 24 anos no Extremo Oriente. De volta ao Ocidente conta, na prisão, as suas aventuras. Baseado nessa história de amor, coragem e determinação, Natalício Barroso escreveu A vida amorosa de Marco Polo, seguida pela vida de Aníbal Barca e Martim Soares Moreno.
Coleção Literatura Hoje
Número de páginas: 184
ISBN: 85-7485-103-5
Editora da Universidade Federal do Ceará – UFC – 2006
Martim Soares Moreno (1586-1648), foi um militar português que defendeu os interesses da coroa lusitana no Brasil, tendo durante décadas combatido piratas franceses e invasores holandeses. É considerado o fundador do Ceará. Em 1630 deu-se a invasão holandesa de Pernambuco. Martim Soares, partiu do Ceará com uns poucos índios e soldados e chegou ao Arraial do Bom Jesus em 1631. Na fase inicial da luta, tomou parte no bloqueio das forças holandesas postadas em Recife e Olinda. Destacou-se sempre, como combatente e interprete junto aos índios. Nos anos seguintes, tomou parte na defesa da Paraíba e de Cunhaú (na capitania do Rio Grande do Norte). Esta obra está dividida em quatro capítulos “O mouro”; “A cruz de cedro”; “O guerreiro branco” e “O degolador”; inclui ainda cronologia e dados sobre o autor.
Filho de sua época, Martim Soares Moreno, era, a exemplo de outros conquistadores e aventureiros do seu tempo, como Hernán Cortez ou Francisco Pizarro, um homem de vontade inquebrantável. Não era singularmente cruel, apenas disposto a matar ou morrer para atingir seus objetivos. Idealizado por José de Alencar, no romance Iracema, o Capitão da Guerra, Martim Soares Moreno, permanece no limbo da História do Ceará, entre a lenda e a legenda.
- Editora: Fundação Demócrito Rocha – 2007
- Coleção Terra Bárbara
- ISBN-10: 8575293575
- ISBN-13: 978-8575293577
Dom Antônio era natural da Catalunha, de onde tinha vindo para o Brasil numa época em que a especulação imobiliária não era tão avassaladora assim. Proprietário de um velho casarão localizado em Santa Teresa, Rio de Janeiro, Dom Antônio, como não queria se desfazer de seu imóvel, enxotava todas aquelas pessoas que se aproximavam dele. A proposta de um jovem que trabalhava como porteiro na rede de hotelaria do centro do Rio de Janeiro para arrendar o imóvel e o transformar num hotel, ao qual daria o nome de ‘Leão de Ouro’, posteriormente, agradou bastante a Dom Antônio. A tal ponto que, mesmo depois de morto, o velho catalão continuou a morar ali. Ele e uma série de outros hóspedes que, tal como Dom Antônio, também tinham morrido no Leão de Ouro. A população do Leão de Ouro, portanto, era constituída, em parte, por moradores deste mundo e, em parte, por moradores do outro mundo.
- Editora: Instituto Episteme de Saúde, Educação e Cultura – 1ª Edição – 2009
- Número de páginas: 64 páginas
- Vendido por: Amazon Servicos de Varejo do Brasil Ltda.
As tralhas gregas a que se refere o autor inscrevem-se entre as maiores obras da Literatura helenista: a Ilíada e a Odisseia, de Homero, e Eneida, de Virgílio. Quanto às outras tralhas, trata-se da Divina Comédia, de Dante Alighiere, e do que o autor denomina “Outras Comédias Divinas”: o Paraíso Perdido, de John Milton, o Fausto, de Johann Wolfgang Goethe, e Os Lusíadas, de Luís de Camões.
Ao longo das 159 páginas que compõem esta publicação, ao leitor é dada a oportunidade de conhecer sucintamente o enredo de cada uma dessas obras. Detentor de uma prosa fluente e agradável, aliada a uma excelente capacidade de concisão, o autor, Natalício Barroso, proporciona ao leitor de A Tralha Grega e Outras Tralhas a oportunidade de acesso a 7 das maiores obras da Literatura Universal. Em que pese o caráter sintético da narrativa, nem por isso pode-se dizer que tenha qualquer das obras sofrido perdas devido a eventuais omissões ou supressões. De fato, é invejável a capacidade de Natalício Barroso de ser sintético sem que, por isso, se descuide de detalhes importantes que, se omitidos, causariam danos ao entendimento do leitor ou infidelidade a qualquer dos autores.
Assim, Natalício Barroso, ao rememorar essas narrativas mitológicas, mostra aos seus leitores que aquilo que supostamente significa nada na verdade está carregado de tudo, ratificando o paradoxo que Fernando Pessoa um dia assim definiu: “O mito é o nada que é tudo.”.
Editora Smile – 1ª Edição – 2012
ISBN-13: 9788580024296
ISBN-10: 8580024293
Número de páginas: 159
Editora: Espaço e Tempo – 1ª Edição – 1998
Número de páginas: 84
Acabamento: Brochura
Tamanho: 13 x 18 cm
Editora: Espaço e Tempo – 1ª Edição – 1998
ISBN: 8585114991
Publicado em 1987. Número de páginas 39.