TÚLIO MONTEIRO – “SOBRE CHUVAS, AMOR E TATUAGENS”

Hoje o dia amanheceu plúmbeo…

Céu de um gris raro, macio e frio, anunciando as chuvas que cairiam a qualquer instante. Dito e feito! Águas em fartura despencaram de incontáveis nuvens-testemunhas perpetuando o Amor que sinto – há décadas – por um certo par de olhos-esmeraldas.

Descansei meus ouvidos, vesti-me e desci da minha toca rumo às ruas próximas donde moro para percorrer as “bicas” e poças que me trouxeram águas tão tranquilizantes quanto as dos tempos do menino solto que fui pelos cantos e encantos de minha infância um tanto quanto solitária, quase completamente feliz.

Para mim, banhos de chuva nunca foram iguais uns aos outros. Neles há, sempre, sutis diferenças, matizes, cheiros, sabores e indeléveis sensações de tranquilidade que me marcam o Corpo, a Mente e a Alma quais tatuagens que hão de me acompanhar até o dia em que eu partir no rumo de outro plano astral.

As chuvas, nesse momento, já se foram. A manhã-tarde continua preguiçosa, refrescante e um verso de Carlos Drummond de Andrade teima em invadir minha verve do pretenso Poeta que sempre quis ser:

“Eu não devia te dizer
Mas essa Lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo.”

Por fim, ainda hoje me tornarei “imortal” na pele, na tez, daquela que Amo.

E parafraseio Drummond:

Eu não deveria dizer a ela,

Mas aquela chuva,

Mas esse tinto vinho que ora tomo,

Me botam apaixonado feito um menino…

Túlio Monteiro – 15 do fevereiro do 2023 – Quarta-feira.

Túlio Monteiro – Escritor, Professor, biógrafo, historiador e crítico literário, nascido em Fortaleza, Ceará, Brasil, aos 15 de outubro de 1964.

Graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Grau de Especialização em Literatura e Investigação Literária, também pela Universidade Federal do Ceará – UFC, com a monografia: Intertextualidade e Fluxo da Consciência na Obra de Graciliano Ramos Orientadora: Professora Doutora Vera Lúcia Albuquerque de Moraes.

Membro efetivo da ACADEMIA INTERNACIONAL DE LITERATURA BRASILEIRA – AILB – Cadeira de número 246 – Com sede em Nova York –  Estados Unidos da América.

Membro efetivo da Academia Cearense de Literatura Popular – ACLP – Cadeira de número 30, cujo patrono é o Poeta e Jornalista Rogaciano Leite – Com sede na Casa de Juvenal Galeno – Fortaleza – Ceará – Brasil.

Ex-Diretor da Galeria de Artes Antonio Bandeira – FUNCET – Fundação de Cultura, Esportes e Turismo – Prefeitura Municipal de Fortaleza –Ceará – (2000 – 2004).

Ex-Diretor do Memorial Sinhá D’Amora – FUNCET – Fundação de Cultura, Esportes e Turismo – Prefeitura Municipal de Fortaleza – Ceará – (2002 – 2004).

AUTOR DOS LIVROS

Agosto em Plenilúnio
Poesias 1995 Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC.

Lopes Filho e a Padaria Espiritual – 2000 – Biografia – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo – Ceará.

Sinhá D’Amora, Primeira-Dama das ArtesPlásticas do Brasil – Biografia – 2002 – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo – Ceará.

Dois dedos de prosa com Graciliano Ramos – Contos – 2006 –Coleção Literatura Hoje – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará  – UFC.

Sonhos e Vitórias – A História de João Gonçalves Primo – Biografia – 2007 – Em parceria com o Poeta, Escritor, Historiador e Biógrafo Juarez Leitão – Premius Editora – Ceará.

Cajueiro Botador – Infanto-Juvenil – 2008 – Coleção Paic – Secretaria de Educação do Estado doCeará   –   SEDUC   –   Governo do Estado do Ceará.

Participação na Coletânea 100 Sonetos de 100 Poetas, com o soneto E há pó de Estrelas pelas estradas – Editada pelo Instituto Horácio Dídimo, Arte, Cultura e Espiritualidade – 2019 – Vencedora do Troféu Literatura 2020, da XIII Bienal do Livro do Ceará – Prêmio concedido pela ZL Books.

Participação na Coletânea do Álbum Fortaleza Ilustrada, com a crônica No aniversário de um padeiro espiritual – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo – Ceará – 2021.

Participação na Coletânea As novas Historinhas do Mestre Jabuti – inspiradas no livro As Historinhas do Mestre Jabuti, do escritor cearense Horácio Dídimo, com o texto “Mestre Horácio Dídimo e o carrinho voador” – Editada pelo Instituto Horácio Dídimo, Arte, Cultura e Espiritualidade – 2021. 

Participação na coletânea Oratório Poético, com a crônica “Eu, Antônio Conselheiro”. Coletânea organizada pelo escritor Luciano Dídimo e editada através do Instituto Horácio Dídimo, Arte, Cultura e Espiritualidade. Lançada durante a XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará – 2022.

Participação no XXII Prêmio Ideal Clube de LiteraturaPrêmio José Telles, com o poema “Ponte Metálica” – Fortaleza- Ceará – 2022.

PREMIAÇÃO

Vencedor do 2.º PRÊMIO IDEAL CLUBE DELITERATURA – A HORA E A VEZ DOS NOSSOS CRONISTAS – Com a crônica “Dois dedos de prosa com Graciliano Ramos” – Fortaleza – Ceará – 1999.

ASSESSORIA TÉCNICA E COTEJAMENTO DE
TEXTO ORIGINAL

24º CINE CEARÁ – Prêmio de Melhor Produção Cearense para o curta-metragem “Joaquim Bralhador”, adaptação do conto homônimo do livro Joaquinho Gato, do escritor cearense Juarez Barroso – Dirigido pelo cineasta Márcio Câmara –2014.

ÁLVARO DE CAMPOS (POR FERNANDO PESSOA) – “CRUZOU POR MIM, VEIO TER COMIGO, NUMA RUA DA BAIXA”.

Fernando António Nogueira Pessoa (LisboaMártires13 de junho de 1888 – LisboaSanta Catarina30 de novembro de 1935) foi poetafilósofodramaturgoensaístatradutorpublicitárioastrólogoinventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português.

“CRUZOU POR MIM, VEIO TER COMIGO, NUMA RUA DA BAIXA”

ÁLVARO DE CAMPOS

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa

Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara

Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;

E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha

(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:

Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,

E romantismo, sim, mas devagar…).

Sinto urna simpatia por essa gente toda,

Sobretudo quando não merece simpatia.

Sim, eu sou também vadio e pedinte,

E sou-o também por minha culpa.

Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:

É estar ao lado da escala social,

É não ser adaptável às normas da vida,

Às normas reais ou sentimentais da vida —

Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,

Não ser pobre a valer, operário explorado,

Não ser doente de uma doença incurável,

Não ser sedento de justiça, ou capitão de cavalaria

Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas

Que se fartam de letras porque têm razão para chorar lágrimas,

E se revoltam contra a vida social porque têm razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!

Tudo menos importar-me com a humanidade!

Tudo menos ceder ao humanitarismo!

De que serve uma sensação se há uma razão exterior para ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,

Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:

É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,

É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo mais é estúpido como um Dostoievski ou um Gorki.

Tudo mais é ter fome ou não ter que vestir.

E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente

Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,

E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!

Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!

Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!

Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,

Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,

Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco, àquele

Pobre que não era pobre, que tinha olhos

tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!

Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!

Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,

Que são pedintes e pedem,

Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!

Que bom poder-me revoltar num comício dentro da minha alma!

Mas até nem parvo sou!

Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.

Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido.

Já disse: Sou lúcido.

Nada de estéticas com coração: Sou lúcido.

Merda! Sou lúcido.

Do livro: Poesia de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa.

“Biografia” de Álvaro de Campos

Álvaro de Campos é um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa, que foi vários poetas ao mesmo tempo.

Além de Álvaro de Campos, Fernando pessoa foi Alberto Caeiro, Ricardo Reis e o prosador Bernardo Soares. Tendo sido “plural”, como se definiu, Fernando Pessoa criou personalidades e elaborou com minúcias os respectivos dados biográficos, ideias e convicções.

Álvaro de Campos é um dos mais importantes heterônimos de Fernando Pessoa. Foi criado em 1915, nasceu em Tavira, no extremo sul de Portugal, aos 15 de outubro de 1890. Estudou Engenharia Naval, na Escócia. Entretanto, jamais exerceu a profissão por não poder suportar viver confinado em escritórios.

Características

Álvaro de Campos é um poeta moderno, aquele que vive as ideologias do século XX. Engenheiro de profissão vê o mundo com a inteligência concreta de um homem dominado pela máquina. De temperamento rebelde e agressivo, seus poemas reproduzem a revolta e o inconformismo, manifestados através de uma verdadeira revolução poética.

Álvaro de Campos é um homem de espírito inconformado com o tempo, é completamente inadaptado ao mundo que o rodeia, vive marginalizado, sendo uma personalidade do não.

Através do heterônimo de Álvaro de Campos, Fernando Pessoa observa o que “se vê fazendo”, e revela sua “verdadeira fisionomia de artista”. No momento da criação, elabora uma análise crítica de si mesmo para compreender o caos em que vive a humanidade. Os versos da “Tabacaria” expressam a consciência infeliz do homem moderno:

Tabacaria

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade na parede e cabelos brancos nos homens,
Com o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.” (…)

Túlio Monteiro – Escritor, Professor, biógrafo, historiador e crítico literário, nascido em Fortaleza, Ceará, Brasil, aos 15 de outubro de 1964.

Graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Grau de Especialização em Literatura e Investigação Literária, também pela Universidade Federal do Ceará – UFC, com a monografia: Intertextualidade e Fluxo da Consciência na Obra de Graciliano Ramos  Orientadora: Professora Doutora Vera Lúcia Albuquerque de Moraes.

Membro efetivo da ACADEMIA INTERNACIONAL DE LITERATURA BRASILEIRA – AILB – Cadeira de número 246 – Com sede em Nova York –  Estados Unidos da América.

Diretor da Galeria Antônio Bandeira de Artes-Plásticas – FUNCET – Fundação de Cultura, Esportes e Turismo – Prefeitura Municipal de Fortaleza – Ceará – (2000 – 2004).

Diretor do Memorial Sinhá D’Amora – FUNCET – Fundação de Cultura, Esportes e Turismo – Prefeitura Municipal de Fortaleza – Ceará – (2002 – 2004).

AUTOR DOS LIVROS

Agosto em Plenilúnio  Poesias  1995  Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC.

Lopes Filho e a Padaria Espiritual – 2000 – Biografia – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo – Ceará.

Sinhá D’Amora, Primeira-Dama das Artes Plásticas do Brasil – Biografia – 2002 – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo – Ceará.

Antologia de Contos Cearenses – 2004 – Organizador – Coleção Terra da Luz – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC, em parceria com a Fundação de Esportes, Cultura e Turismo de Fortaleza –  FUNCET  –  Prefeitura Municipal de Fortaleza  –  Ceará.

Dois dedos de prosa com Graciliano Ramos – Contos – 2006 – Coleção Literatura Hoje  –  Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará  – UFC.

Sonhos e Vitórias – A História de João Gonçalves Primo – Biografia – 2007 – Em parceria com o Poeta, Escritor, Historiador e Biógrafo Juarez Leitão – Premius Editora – Ceará.

Cajueiro Botador – Infanto-Juvenil – 2008 – Coleção Paic – Secretaria de Educação do Estado do Ceará   –   SEDUC   –   Governo do Estado do Ceará.

Participação na Coletânea 100 Sonetos de 100 Poetas, com o soneto E há pó de Estrelas pelas estradas – Editada pelo Instituto Horácio Dídimo, Arte, Cultura e Espiritualidade – 2019 – Vencedora do Troféu Literatura 2020, da XIII Bienal do Livro do Ceará – Prêmio concedido pela ZL Books.

Participação na Coletânea do Álbum Fortaleza Ilustrada, com a crônica No aniversário de um padeiro espiritual – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo – Ceará – 2021.

Participação na Coletânea As novas Historinhas do Mestre Jabuti – inspiradas no livro As Historinhas do Mestre Jabuti, do escritor cearense Horácio Dídimo, com o texto “Mestre Horácio Dídimo e o carrinho voador” – Editada pelo Instituto Horácio Dídimo, Arte, Cultura e Espiritualidade – 2021. 

Participação na coletânea Oratório Poético, com a crônica “Eu, Antônio Conselheiro”. Coletânea organizada pelo escritor Luciano Dídimo e editada através do Instituto Horácio Dídimo, Arte, Cultura e Espiritualidade. Lançada durante a XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará – 2022.

Participação XXII Prêmio Ideal Clube de Literatura – Prêmio José Telles, com o poema “Ponte Metálica” – Fortaleza – Ceará – 2022.

PREMIAÇÃO

Vencedor do 2.º PRÊMIO IDEAL CLUBE DE LITERATURA – A HORA E A VEZ DOS NOSSOS CRONISTAS – Com a crônica “Dois dedos de prosa com Graciliano Ramos” – Fortaleza – Ceará – 1999.

Vencedor do XI Festival de Poesia, Crônica e Conto, da Academia Imperatrizence de Letras  – (AIL)  – Imperatriz – Maranhão – 1997.

ASSESSORIA TÉCNICA E COTEJAMENTO DE TEXTO ORIGINAL

24º CINE CEARÁ – Prêmio de Melhor Produção Cearense para o curta-metragem “Joaquim Bralhador”, adaptação do conto homônimo do livro Joaquinho Gato, do escritor cearense Juarez Barroso – Dirigido pelo cineasta Márcio Câmara – 2014.