MAS SERÁ O BENEDITO?

MAS SERÁ O BENEDITO ?

Benedito Caravelas era um escravo nascido na Villa Nova do Rio Sam Matheus. O apelido Meia-Légua veio de suas várias viagens ao nordeste brasileiro. Suas qualidades de líder, sua coragem e sua astúcia transformaram-no em símbolo de esperança de libertação para os escravos da região norte do Espírito Santo.

Em uma das várias vezes em que foi preso, Benedito chegou a São Mateus amarrado pelo pescoço, sendo puxado por um capitão-do-mato montado a cavalo. Os negros que foram presos junto a ele foram obrigados a surra-lo. Dado como morto, seu corpo foi entregue aos escravos para providenciarem seu sepultamento no Cemitério dos Escravos, na Cachoeira do Cravo. Deixaram seu corpo na Igreja de São Benedito e ficaram de fora rezando. No outro dia, quando entraram na igreja, não encontraram o corpo, mas apenas as pegadas com marcas de sangue. A partir dai surgiu a lenda de que Meia-Légua era protegido de São Benedito, pois andava com uma pequena imagem do santo em um embornal.

Meia-Légua pretendia invadir São Mateus, no dia 26 de Julho de 1881. O plano era invadir a cidade no dia de Santa Ana, onde entrariam no porto, com o pretexto de louvarem a santa. Junto a ele havia outros líderes quilombolas, dentro os quais estavam Viriato Canção-de-Fogo, Cosntância D’Ângola, Negro Rugério e Clara Maria do Rosário dos Pretos. A tomada da cidade foi evitada porque o plano foi descoberto. Ao ser informado, o presidente da província  enviou um destacamento para o local, a fim de combater os insurgentes. A força era composta por 24 praças de linha, um inferior e um corneta, sobe o comando de um oficial. Este destacamento, em conjunto com os capitães do mato da região, tomaram de assalto o quilombo  de Negro Rugério, onde atualmente se localiza o bairro Santana e Conceição da Barra. Depois de cercado o quilombo, o Alferes, comandante do destacamento, penetrou nele sozinho, sendo que naquela ocasião foram ouvidos dois tiros. Benedito errou o alvo e fez-se em fuga, perseguido pelo mesmo alferes que não conseguiu captura-lo. A maioria dos negros aquilombados foram mortos nesta ocasião, sendo queimadas todas as casas de farinha ali presentes.

20 escravos fugidos, comandados pelo criminoso Benedito, condenado a galés, ex-escravo dos herdeiros de Dona Rita Cunha, mãe do Barão de Aymorés, formavam um quilombo em São Mateus. O grupo, cujos elementos viviam dispersos por diferentes lugares da comarca, espalhavam o terror por onde passavam, atirando e roubando.

O bando de Benedito Meia-Légua saía sempre me pequenos grupos, sendo que cada grupo tinha um líder que mantinha sempre as características suas, a fim de confundir os perseguidores. Com tal artifício, Meia-Légua e seus companheiros conseguiram se manter durante quarenta anos, sempre perseguidos, mas nunca capturados. Quando era noticiada sua morte, ele reaparecia em outra fazendo com novas investidas. Graças a isso, espalhou-se o mito de que era imortal.

Velho, doente e mancando de uma perna, só foi morto por ter sido traído por um caçador, que denunciou às tropas seu esconderijo, sendo este o oco de uma árvore, onde sempre dormia. Aqueles que o perseguiam montaram tocaia em volta do tronco e ali ficaram até a noite, esperando que ele se recolhesse para dormir. Logo que o viram entrar, taparam o tronco e lhe atearam fogo, que ardeu durante dois dias e duas noites.


(“Benedito” – Por Miltinho – Carnaval de 1964)

“MENDIGO DO CORAÇÃO” – UM POEMA DE DENYZIA BRITO JANCZUK

(Denyzia Brito Janczuk)

MENDIGO DO CORAÇÃO

Será que sou eu esse mendigo do coração?

Quando chora para receber atenção

Mesmo que não te falte estrutura, amigos e bajulação.

Será que sou eu esse mendigo do coração?

Quando grita e provoca

Trazendo preocupação

Não importa o que fazem

Vive na vitimização.

Será que sou eu esse mendigo do coração?

Quando faz tudo para agradar

E receber a aceitação

Na sua vida, no seu grupo,

Sua família e sua paixão.

Será que sou eu esse mendigo do coração?

Quando não lida bem com as dificuldades da relação

E percebe que seus esforços foram em vão

De ser reconhecido pelo que faz, só que não.

Será que sou eu esse mendigo do coração?

DENYZIA BRITO JANCZUK


Nasceu em Tabira – Pernambuco, indo residir em São Paulo logo que completou um ano de vida, posteriormente mudando-se para Palmas – Tocantins, com sua família formada em 2015.


Formou-se enfermeira e abdicou dos plantões após 12 anos de profissão. Seguindo para o cuidado exclusivo aos filhos, casa e marido. Desde então, não parou de estudar em prol do autoconhecimento, despertando novos talentos e abusando da imaginação.

Amante dos livros, gosta de artesanato, estuda violino e escreve com o coração. Seu primeiro livro, “Poemas de uma Deusa Real”, já rendeu a participação na Antologia “20 Marias e um grito” – Tocantins – Editora Ser Poeta. Também é membro correspondente da Academia Antônio Bezerra de Letras e Artes – Fortaleza – Ceará – Cadeira 73 – Patrono: Cora Coralina.

“RELIGIÃO, UM OPIÁCEO SEM PRAZER” – CARLOS GILDEMAR PONTES

(Gildemar Pontes)

RELIGIÃO, UM OPIÁCEO SEM PRAZER


A religião não só escraviza como aliena. Para alguns, é uma espécie de opiáceo. Quando os cristãos chegaram na América, desconheceram toda cultura, toda religiosidade e toda harmonia com a natureza praticada pelos povos originários. Disseram que o Deus deles não servia e só poderiam se salvar se aceitassem o Deus cristão. E aí mataram, escravizaram e dizimaram aldeias inteiras com o objetivo de pilhar as riquezas. Depois, os cristãos trouxeram povos africanos e massacraram até a morte, sugando toda energia de suas almas, enquanto puderam lucrar. Viva Tupã, Oxossi ou qualquer entidade que se erija como Deus que não escraviza, não lucra e não se reveste por meio Malafaias, Macedos, Valdemiros e outras catervas do lixo humano. Continuo afirmando que qualquer religião aliena e escraviza. E a ideia de Deus é uma criação humana com os fins de ser o escudo das religiões. Falo como humano de um planeta de 4,5 bilhões de anos. Só adquirimos sentido gregário de sobrevivência coletiva de 30 mil anos para cá. A consciência é bem mais recente (Literatura, Filosofia, Arte) ainda não foi acessada por todos. Então, a religião ocupa o lugar da racionalidade e institui uma culpa e uma superioridade a algo/alguém fora do sujeito para que as suas ações estejam sob vigilância. A consciência é a evolução do espírito alma, ãnima, energia que distribui a razão numa frequência diferente da frequência religiosa. Os seres evoluídos, a quem recorremos como santos, anjos, benfeitores, podem ser apenas seres de outras raças em suas tarefas de montar o quebra-cabeças da matrix que eles receberam para mudar de fase. A recente imagem de pessoas tirando comida do caminhão de lixo revela a involução e a pseudopiedade anulada dos religiosos. Vi mais comoção e atitude dos ateus do que dos religiosos que usam Deus como escudo. Em planetas com o dobro de anos do nosso, minha razão prospecta seres infinitamente mais evoluídos e, proporcionalmente, nos vendo como fungos, bactérias ou quiçá seus ancestrais antropoides dotados de ego e tentando acessar o lado oculto do próprio órgão que possuem e não usam adequadamente, o Cérebro.

Carlos Gildemar Pontes. Escritor, Doutor em Letras – UERN, Mestre em Letras – UERN e Professor de Literatura da UFCG/Cajazeiras. Editor da Revista Acauã. Membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Coordenador do Grupo de Performance Poética Verso ao Vento. Jornalista colunista do site http://www.diariodosertao.com.br e do Jornal Gazeta do Alto Piranhas. Atua também como revisor, ator, letrista, produtor cultural e é Faixa Preta de Karatê Shotokan – 3º DAN. Contatos: gilpoeta@yahoo.it

“TRIUNFO PÓSTUMO” – SONETO DE ELVIRA DRUMMOND

(Elvira Drummond)

TRIUNFO PÓSTUMO 


Senti o seu chamado, em tom austero,

 deixando-me sequer alternativa.

 Aviso que jamais me desespero

(driblar o dissabor me torna ativa)!

 
Cedendo aos seus caprichos, o que quero

é ter, neste epitáfio, em cor bem viva,

 a frase: “Fez da vida seu bolero, 

dançando sempre audaz, persuasiva…

 

Ó morte, nem você desfaz meu laço — 

romper a fria lápide ameaço, 

contando com sementes que plantei…

 

Em vida, arrematei um grande trunfo:

 Amei, amei… por isso, aqui, triunfo —

naqueles que me amaram viverei!

* Elvira Drummond – Natural de Fortaleza, Professora da Universidade Federal do Ceará e do Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, licenciada em Artes, bacharel em piano e mestre em Literatura.

Atua em várias cidades brasileiras, ministrando cursos, oficinas, especializações, seminários e conferências:

  • Oficinas e Painéis de Educação Musical: São Paulo-SP; Campo Grande-MS; Londrina-PR; Maringá-PR;João Pessoa-PB;Teresina-PI;Fortaleza-CE, Apucarana-PR, etc.
  • Cursos de Educação Musical: Curitiba-PR; Londrina-PR; Ibiporã-PR; Salvador-BA; Recife-PE; João Pessoa-PB; Belo Horizonte-MG; Manaus-AM, Juiz de Fora-MG, etc.
  • Musicalização através do piano: Londrina-PR; Salvador-BA; João Pessoa-PB. Sua produção artística conta com inúmeros trabalhos publicados através das Editoras: Ricordi (São Paulo), Bruno Quaino (Rio de Janeiro), Fundação Demócrito Rocha (Ceará), Universidade Federal do Rio Grande do Sul,  Universidade Federal do Ceará e LMiranda Publicações(Ceará). Ver catálogo anexo em: http://www.elviradrummond.com.br/autora.html -http://www.elviradrummond.com.br/ 
  • http://www.elviradrummond.com.br/contato_novo.html

ALGUMAS DE SUAS OBRAS:

Caderno preparatório iniciação ao piano – Editora: Bruno Quaino, 2002; Iniciação ao piano –  ED. IRMÃOS VITALE, 2019; A Casa do Dudu – Editora: Elvira, 2009; Cirandas Entrameladas: Série Encanto – Editora: Calango, 2005; Brinquedos de Roda – Piano a Quatro Mãos – Vol. 1 – Editora: Ricordi, 1981; A Casinha de Bonecas – Editora: Imeph, 2009; Todo Bicho Sai da Toca pra Tocar (inclui Cd) – 7548 – Editora: Lmiranda, 2012; Peças para Violinistas Iniciantes – Editora: Softcraft, 2003 – Dentre muitos outros.