PRA DESCER NO PARAÍSO

Eis o que consegui tremulamente dizer na cerimônia de batizado do meu caçula, ontem.

Há pouco mais de três anos um amigo e fez uma “proposta indecente”, na sua exata expressão. Se eu queria ser a mãe do filho dele. O mero pedido já era uma honra, mas pra me tirar qualquer possibilidade de defesa, ele ainda acrescentou: só você se encaixa no perfil de quem pretendo para essa parceria ad eternum. Até hoje não tenho certeza, mas na hora achei que era u elogio e aceitei. E assim, o que às vezes é um fardo pra muitas mulheres, pra mim tem sido, mais que um privilégio, uma benção diária. Nas primeiras noites que passamos com o bebê, eu  – que já tenho um filho adulto  – , eu é que fui a marinheira de primeira viagem. Meu amigo parecia nunca ter feito outra coisa na vida senão cuidar de um recém-nascido. E nesses três anos tem sido o pai mais amoroso que uma criança ode ter. Todos somos testemunha disso, e estamos orgulhosos e felizes.

Mas aposto que nesse momento não há ninguém mais feliz e orgulhoso que o autor desse Milagre, Aquele que depositou em nossas mãos inábeis a expressão de seu Amor por nós: uma vida pra cuidar. Se pudéssemos ver Deus agora, acho que Ele apareceria como o imaginam as crianças: um velho de longas barbas brancas. Mas em vez do ar severo que insistem em Lhe dar, exibiria um terno sorriso de vovô voltado para esta Casa.

Cristina Carvalho – escritora, crítica literária, amiga e mãe. Atualmente, dedica-se, também, à tradução da obra literária de Emily Dickinson (1830-1886), composta de 1776 poemas e 44 cartas.

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